quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Despertar de vírus "adormecidos" podem explicar certas alergias a medicamentos

PARIS, 25 Ago 2010 (AFP) - Algumas formas de alergia medicamentosa são na verdade ocasionadas pelo despertar de vírus "adormecidos" do tipo herpes, e não o resultado de uma reação do organismo ao medicamento como acreditava-se anteriormente, constataram pesquisadores franceses.

Os resultados desta pesquisa que que levou sete anos foram divulgados nesta quarta-feira na revista americana Science Translational Medicine.

"A síndrome da hipersensibilidade, assim chamada porque o sistema imunológico reagiu excessivamente, surge pelo menos três semanas após a administração do medicamento", indicou a pesquisa.

Essa síndrome, rara, "simula um quadro infeccioso - febre, gânglios, erupção cutânea e pode atingir os pulmões, os rins, o fígado e o coração. A mortalidade é de cerca de 10%", disse à AFP o professor Philippe Musette (Inserm, Rouen, França), que dirigiu a pesquisa .

Os medicamentos - normalmente os antiepiléticos, os antibióticos, e também o allopurinol (contra a gota) - despertam, em alguns indivíduos que seriam geneticamente predispostos, o vírus de Epstein Barr (EBV/VEB), um vírus da família Herpes (herpes, varicela-zoster, HHV6, CMV-mononucleose, etc.), que normalmente fica em estado "adormecido" no organismo.

"O risco de hipersensibilidade a um antiepilético como o Tegretol (carbamazepina) é de 1/8000", acrescenta.

Quarenta pacientes apresentando esta hipersensibilidade ou reação "Dress" (uma reação ao medicamento com excesso de linfócitos sanguíneos eosinófilos ligados à alergia e aos sintomas alérgicos cutâneos e viscerais) foram estudados.

Em grande parte deles (76%), os pesquisadores observaram a multiplicação do vírus (EBV) no sangue. Em relação às células imunológicas desses pacientes (linfócitos T CD8+, em particular), a maior parte da reação é dirigida contra as partículas virais. "Quanto mais os linfócitos secretam substâncias inflamatórias (interferon gama...), mais grave é a doença", indica o pesquisador.

"Até então, pensávamos que a reação ocorria contra o medicamento e, pela primeira vez, provamos que o medicamento reativa o vírus e que isso desencadeia a alergia", comenta Musette. O organismo luta na verdade contra a invasão e contra a reativação viral desencadeada pelo medicamento.

O tratamento de algumas dessas manifestações alérgicas poderá evoluir com a administração, além da interrupção do medicamento em questão, "corticoides e, na falta de algo melhor em casos extremamente graves, antivirais pouco ou parcialmente eficazes (do tipo ganciclovir)".

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